Termas do Carvalhal, uma história com 200 anos

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A tina do juiz

Em 1892, Alfredo Lopes faz a descrição das nascentes. Nesta altura já existia um “modesto balneário”, para onde era conduzida a água de quatro das nascentes. Outra nascente era destinada para ingestão, embora a sua água alimentasse uma ”tina particular contida numa pequena casa, conhecida pelo nome de Guarita do Juiz de Direito”. O balneário, relata o autor, “foi feito a expensas da Câmara Municipal de Castro Daire, há cerca de 36 anos [ou seja, em 1858]). Consiste, apenas, num acanhado edifício, cuja porta se abre num corredor, comunicando para três quartos com duas tinas cada um. Tem além disso, um depósito e uma caldeira para o aquecimento da água”. Na altura, as Termas estavam abertas de junho a outubro, servindo 200 pessoas por ano.

O aumento da afluência motivou a construção da primeira albergaria, Tasca do Serrano de seu nome, na última década do século XIX. Adérito Ferreira, em “Termas do Carvalhal” (2002), relata uma descrição feita por um neto: “Aquela albergaria era uma construção rudimentar, mas boa para a época. Tinha dois pisos. O rasteiro, face ao caminho, era em pedra com divisórias em madeira onde tinha a adega, uma divisão para arrumos, a tasca e um espaço para barbearia. O piso de cima era todo em madeira, tinha divisórias, várias camas que alugava aos que ali procuravam tratamento nas termas. A casa era aqui onde está o Café Central”.

Um importante passo para o desenvolvimento das Termas dá-se em 1912: a construção do Hotel do Carvalhal. Nesse mesmo ano, o Prof. Ferreira da Silva analisou as águas, classificando-as de mesotermais, oligo-salinas, sulfúreas, alcalinas e litínicas.

Em 1915, é feito o mais completo relatório das águas até à data, pelo engenheiro Afonso Alcoforado. O especialista relaciona as águas do Carvalhal com as das termas vizinhas: “As circunstâncias geológicas destas nascentes e as composições químicas das suas águas deixam admitir e supor a sua inteira afinidade com as águas minerais de Aregos, das Termas de S. Pedro do Sul, da Felgueira e de Alcafache, que se dispersam na mesma mancha granítica”.

Neste relatório, Afonso Alcoforado descreve os balneários, que tinham então seis cabinas com uma banheira cada uma. Na extremidade sul do edifício, “feita recentemente, dois quartos de banho relativamente espaçosos, tendo janelas regulares e uma aparência interior muito aceitável, salvo a desvantagem das suas banheiras serem de zinco”. Ainda existiam as estruturas do Banho da Guarita do Juiz e do Banho dos Leprosos, velhas de 100 anos. Não é difícil imaginar como estariam. Sobre a última, “o seu aspeto exterior é de inteiro abandono, e o interior absolutamente condenável. Tem duas banheiras de pedra tosca em dois compartimentos separado. Na minha opinião, julgo que o uso destas duas casas de banho, tais como agora se encontram, não devia permitir-se no nosso tempo”.

Em 1916, um alvará entrega a concessão à Câmara Municipal, que inicia a construção de mais um pequeno balneário, o qual, segundo Adérito Ferreira, não passava de quatro paredes, com uma ou outra divisória em madeira e telhado.

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