As Caldas da Rainha foram a última paragem no percurso que Elisabete Jacinto realizou pelas estâncias termais da rede Termas Centro. Saiba o que a piloto portuguesa viu e aprendeu sobre o hospital termal mais antigo do mundo, neste texto, escrito na primeira pessoa.
Reza a História que, em 1484, a rainha D. Leonor se deslocava com o seu séquito entre Óbidos e a Batalha quando viu, num determinado local, algumas pessoas que se banhavam em poças de água fumegante e de cheiro forte. Foi informada de que se tratava de pessoas doentes que encontravam alívio e cura naquelas águas. Consta que a rainha sofria também de uma enfermidade e que comprovou, ela própria, a capacidade curativa destas águas que nasciam ali espontaneamente. Por decisão própria, no ano seguinte, mandou construir naquele local, na altura designado por Caldas de Óbidos, aquele que ainda hoje é considerado o primeiro hospital termal do Mundo. Começou assim a formar-se uma pequena povoação, à qual a rainha atribuiu foral e uma série de regalias para garantir o funcionamento do hospital. Assim nasceu a cidade que hoje conhecemos como Caldas da Rainha.
Descubra: A água que originou uma cidade
O Hospital Termal das Caldas da Rainha ficou concluído em 1488, tendo sido construído sobre cinco nascentes de água termal que curam doenças do aparelho respiratório, reumáticas e músculo-esqueléticas. Trata-se de água que precipita na Serra dos Candeeiros e que, ao longo do seu percurso, vai sofrendo um processo de mineralização. Passados 600 a 700 anos, por razões geológicas, emerge neste local a uma temperatura que varia entre os 33º e os 35ºC, rica em minerais.

Apesar da qualidade da água, temos de admitir que o mérito foi da rainha D. Leonor, dada a sua visão, iniciativa e capacidade interventiva. Assim, mais uma vez se comprova que são as pessoas que fazem a diferença!
Para compreender todo o seu papel nesta história, recomendo uma visita ao Museu do Hospital Termal. Ali percebe-se que não foi só o simples facto de o ter mandado construir, numa época em que a medicina era rudimentar, mas também a forma como organizou, subsidiou e garantiu o seu funcionamento. De tal forma que este se manteve até aos dias de hoje e já passaram mais de 530 anos.





No momento da sua fundação, o principal medicamento era a água. No século XIX, este torna-se no primeiro hospital com cuidados de medicina convencionais. As vicissitudes da história fizeram variar a sua importância ao longo do tempo. Hoje este magnifico “Hospital Termal” continua activo, embora com diferentes funções e já acompanhado por um outro edifício designado por “Balneário Novo”, apesar dos seus já 120 anos de construção. Ao longo do tempo, o hospital foi sujeito a várias intervenções pelo que, do edifício original, resta apenas a piscina, “a piscina da rainha”, tal como foi construída, marcando esta o início do termalismo em Portugal.

Em 1775, o Marquês de Pombal alterou o Regimento do Hospital Termal. Entre as várias alterações decretadas, o dia 15 de Maio passou a ser a data de abertura da época termal sendo este, ainda hoje, considerado o dia da cidade.
Voltando ao passado, é interessante constatar que, na cura dos doentes, a rainha considerou não só a componente físico-química, mas também a espiritual, tendo mandado construir, com entrada directa para o hospital, uma igreja dedicada à Nossa Senhora do Pópulo, já que esta era dirigida ao povo. Esta igreja ainda se mantém tal como foi construída, mas agora já possui uma porta direta para a rua.

O bem-estar era também uma das suas preocupações e por isso mandou construir um parque, agora designados Parque D. Carlos I e a mata Rainha D. Leonor, ambos contíguos ao hospital, onde os doentes podiam passear, conviver e convalescer em plena natureza. “A banhos nas termas, a ares no parque”, lê-se algures numa das paredes do museu.


Actualmente, esta estância termal está mais uma vez a sofrer obras com vista à adaptação do edifício às necessidades actuais, pelo que, brevemente, voltará a ganhar importância ao oferecer uma mais vasta gama de serviços, entre eles o de bem-estar.

Explore: A cidade que nasceu das nascentes
É um facto que foram as termas que deram origem à cidade, mas esta cresceu, alterou-se e foi ganhando vida para além das águas que lhe deram origem. Descobri-la é hoje um desafio. Actualmente, a tecnologia da informação permite-nos estar em casa e, em frente ao computador, conhecer esta cidade através de roteiro interactivo a 360º, o que não deixa de ser interessante. Contudo, se tiver oportunidade de se deslocar até ao local, quem sabe se a propósito das termas, aproveite para viver a cidade.
Isso significa passear na Mata D. Leonor, constituída por um denso e agradável arvoredo, ou no Parque D. Carlos I, onde pode usufruir dos seus diversos arranjos paisagísticos, remar no lago, admirar os seus enormes plátanos e as suas inúmeras estátuas. Consta que são mais de 30. Não é por acaso. Este jardim integra o Museu José Malhoa, dedicado a este pintor onde podem ser vistas inúmeras obras de arte. Mas a arte está por toda a cidade. Se é apreciador, visite o Centro de Artes, constituído por cinco unidades museológicas dedicadas a artistas do século XX.


Viver a cidade é também partir à sua descoberta através das diferentes rotas temáticas, das quais destaco a Rota Bordaliana. As cerâmicas ganharam importância nesta terra, não só pela abundância de barro, mas pela existência de dois artistas se destacaram nesta arte, Manuel Mafra e Rafael Bordalo Pinheiro. Descubra assim as diferentes obras deste artista expostas pela cidade e constate como esta arte está sempre presente nos mais pequenos detalhes urbanos.


Viver a cidade é observar a fachada dos edifícios característicos de uma época, observar as enormes pinturas de arte urbana e prestar alguma atenção ao comércio local. Passar pelo Mercado da Fruta, o mais antigo mercado a céu aberto da Europa, é obrigatório, assim como pela “Loja 15”, cujos produtos contam a história da cidade, ou pelo “Forno do Beco”, pois não é possível partir sem provar a doçaria local. São vários exemplos, mas, de todos, o meu preferido são os “Pasteis Bordalo”. Significa também comer num dos muitos restaurantes e esplanadas locais, dos quais são exemplo a Casa Antero, o Gordão e o Zé Povinho.



Desfrute: Da Foz do Arelho e seus passadiços
Apesar do interesse desta cidade, é a natureza que nos move. Assim torna-se imprescindível uma passagem pela praia da Foz do Arelho. Aqui, a Lagoa de Óbidos, onde é possível ver bandos de flamingos, junta-se ao mar por entre um imenso areal e por um canal cuja posição vai variando ao longo do tempo. O areal é magnifico e inclui dois tipos de praia, a de mar e a da lagoa. À sua beira, agrupam-se vários restaurantes onde se come bom peixe, dos quais a Cabana do Pescador é um exemplo.




Ali perto estão uns passadiços em madeira, desenhados sobre a arriba pela arquiteta paisagista Nadia Schilling, que constituem uma forma agradável de se caminhar à beira-mar sem destruir a vegetação natural. São os Passadiços da Foz do Arelho, com cerca de 800 metros e uma paisagem fabulosa a perder de vista. Aqui o mar adquire a primazia. Se a atmosfera estiver limpa é possível ver as Berlengas, lá ao longe.



Diria tratar-se do sítio ideal para ver o pôr do sol, mas nós tivemos curiosidade de ir até Salir do Porto. Trata-se de uma praia fluvial formada pelo Rio Tornada, que vai desaguar na baía de S. Martinho do Porto. Aqui situa-se a duna mais alta de Portugal, que fazíamos questão de conhecer. O desafio é subir aquela rampa de areia sem fazer pausas, e descê-la sem correr, ou correr sem cair… ou rebolar pela areia até cá abaixo sem parar! Enfim, desafios a que não nos pudemos dar ao luxo e que ficarão para uma próxima oportunidade.

Mais informações sobre as termas de Caldas da Rainha aqui.
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