As estâncias termais da região Centro de Portugal estão repletas de História e de episódios curiosos, que ilustram a sua importância ao longo dos séculos. Histórias de reis misturam-se com as de plebeus, o que demonstra que, desde sempre, as águas termais eram a escolha preferencial para quem necessitava de tratar maleitas várias. O nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques, o Conquistador, não fugiu à regra, tendo escolhido S. Pedro do Sul para se restabelecer da situação mais grave que enfrentou em toda a sua vida.

Em 1169, D. Afonso Henriques, em plena fase de conquista e alargamento do território de Portugal, atacou Badajoz, então em posse dos muçulmanos, mas que, à luz de um tratado, pertenceria ao reino de Leão. O rei português conseguiu cercar os mouros na alcáçova, já dentro da cidade, mas foi surpreendido pela chegada de forças leonesas, comandadas pelo rei D. Fernando, que quis defender o que entendia ser seu. Bloqueados entre duas forças, não restava outra hipótese aos portugueses senão retirar. D. Afonso cavalgou para fora da cidade, mas ao atravessar a porta feriu a perna num ferrolho mal fechado e caiu debaixo do seu próprio cavalo, tendo partido a perna. Inválido, durante dois meses ficou prisioneiro de D. Fernando, seu genro, sendo libertado só depois de pagar um resgate que incluiu a devolução de territórios aos leoneses.
Assim que se viu livre, o nosso primeiro rei seguiu os melhores conselhos médicos e foi a tratamentos para as Caldas de Lafões – que são hoje as Termas de São Pedro do Sul. Não surpreende: as Caldas de Lafões, banhadas pelo rio Vouga, eram já as mais importantes de Portugal, com as virtudes terapêuticas das suas águas a serem reconhecidas por todos. Ainda antes do desastre de Badajoz, em 1152, o rei tinha concedido foral à então chamada “Vila do Banho”, o que comprova a sua crescente importância.

Dois meses de recuperação
Reza a História (bem documentada pelo historiador A. Nazaré Oliveira), que por aqui ficou D. Afonso Henriques pelo menos dois meses – durante o outono, entre setembro e novembro –, a tentar recuperar a saúde tão debilitada.
Como o rei estava em Lafões, era natural que as decisões mais importantes sobre a vida do reino fossem tomadas em São Pedro do Sul, que assumiu, assim, um papel fulcral para o futuro da jovem nação portuguesa. Enquanto permanecia a banhos, D. Afonso Henriques foi visitado e consultado pelos mais altos dignitários do Estado e reuniu por diversas vezes com os seus filhos e com a Cúria Régia. Assinou também documentos de grande importância, de que é exemplo a Carta de Doação aos Templários da terça parte dos bens que viessem a ser conquistados para além do Tejo.
“Assim que se viu livre, o nosso primeiro rei seguiu os melhores conselhos médicos e foi a tratamentos para as Caldas de Lafões – que são hoje as Termas de São Pedro do Sul. Não surpreende: as Caldas de Lafões, banhadas pelo rio Vouga, eram já as mais importantes de Portugal, com as virtudes terapêuticas das suas águas a serem reconhecidas por todos”
Mas D. Afonso Henriques fez mais durante a sua estada. Fez obras de beneficiação na gafaria, hospital dedicado a leprosos, e mandou construir uma capela em honra de S. Martinho, que chegou até aos dias de hoje. A sua presença, e a deslocação constante da Cúria Régia, impulsionaram as Caldas de Lafões de forma decisiva. Depois de D. Afonso Henriques, as Termas de S. Pedro do Sul afirmaram-se como o principal centro assistencial da região – e a sua fama já tem quase 900 anos e promete ser eterna.
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