
A visão de José Marques Caldeira
Um passo decisivo para as Caldas da Felgueira deu-se com a primeira cessão da exploração das águas, concedido pela Câmara de Nelas em 24 de dezembro de 1880, véspera de Natal, a José Maria Marques Caldeira. Na sequência, José Maria Marques Caldeira publicou uma memória apresentada à autarquia, com o título: “Banhos da Felgueira – O que são e o que rendem actualmente e o que devem ser e render no futuro – Demonstração breve destes dois factos”. Nesta memória, descreveu o mau estado geral dos balneários. “(…) Nestas péssimas condições as duas banheiras funcionam de dia e de noite durante a maior parte das duas quadras em que os banhos são concorridos (seis meses por ano)”.
De acordo com José Maria Marques Caldeira, a frequência da Felgueira situava-se em pelo menos 4000 pessoas, mas o mercado potencial seria muito maior, dado o aumento da procura da estância termal e a abertura do caminho-de-ferro da Beira Alta, em 1876. O autor sugere a construção de um balneário e de um hotel. Estando o projeto concluído, “as águas da Felgueira serão as mais procuradas do país, porque não as há melhores em riqueza medicinal”. Além disso, aos valores totais do rendimento anual poderiam juntar-se os valores da comercialização de água engarrafada.
“As águas da Felgueira serão as mais procuradas do país, porque não as há melhores em riqueza medicinal”
José Maria Marques Caldeira, 1881
A 7 de agosto de 1882 nasceu então a Companhia das Águas Medicinais da Felgueira, pelas mãos de José Maria Marques Caldeira, que de pronto iniciou os trabalhos de melhoramentos da captação de águas. Para tal, desafiou o arquiteto Rodrigo Maria Berquó, Marquês de Cantagallo, a visitar os estabelecimentos termais dos Pirenéus, com o objetivo de estudar um projeto termal para a Felgueira.
Ainda em 1982, por Decreto Real, a Companhia das Águas Medicinais da Felgueira torna-se concessionária das Águas Mineromedicinais da Felgueira, uma vez que lhe tinham sido reconhecidas propriedades terapêuticas.
Em 1886, iniciou-se a construção do novo balneário, de grande qualidade. Foi inaugurado em 5 de junho de 1887, tendo sido o seu primeiro diretor clínico o Dr. João Felício, médico natural de Canas de Senhorim. Sobre o novo balneário, escreveu Alfredo Lopes que “neste estabelecimento se encontram cuidadosamente instalados os mais completos aparelhos hidroterápicos, 50 tinas para banhos de imersão, duches e uma excelente sala de inalações e pulverizações”.
Também em 1886, é criada a Companhia do Grande Hotel Club das Caldas da Felgueira, independente da Companhia das Águas, e é edificado o Grande Hotel. Vivia-se então um período de grande projeção das Caldas da Felgueira, que no início do século XX foi considerado dos melhores estabelecimentos termais do país.
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